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19 de Abril de 2024

Procuradores da Lava-Jato rejeitam proposta de delação de Eduardo Cunha

Matéria publicada no Jornal O Globo

há 7 anos

A mais esperada e também uma das mais temidas delações desde os acordos da JBS e Odebrecht não vai acontecer, pelo menos por enquanto. Procuradores do Grupo de Trabalho da Lava-Jato em Brasília rejeitaram a proposta de delação apresentada pelo ex-deputado Eduardo Cunha, um dos mais próximos aliados do presidente Michel Temer. As negociações vinham se arrastando há mais de um mês e, na sexta-feira passada, procuradores decidiram botar um ponto final das negociações.

As promessas do ex-deputado de delatar políticos com quem mantinha estreitos vínculos foram consideradas "inconsistentes e omissas". Cunha também teria apresentado poucos documentos para comprovar as genéricas acusações que teria feito. A informação sobre o fim das tratativas foi divulgada pelo Valor e confirmadas pelo GLOBO nesta terça-feira. A recusa da delação não pode, ainda, ser considerada uma derrota de Cunha. Na semana passada, um interlocutor do ex-deputado disse que, mesmo com novo advogado e negociações em andamento, ele tinha mudado de estratégia.

Segundo esta mesma fonte, Cunha apresentou de forma intencional uma delação branda para ser rejeitada pela equipe do atual procurador-geral Rodrigo Janot. A ideia dele seria esperar a posse da futura procuradora-geral Raquel Dodge e, a partir daí, buscar um acordo mais favorável, com menos revelações comprometedoras e mais benefícios. Com isso ele poderia poupar os aliados com quem mantinha contato com mais frequência, entre eles Temer e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves.

Cunha também estaria apostando também numa inversão de expectativas no Supremo Tribunal Federal (STF) a partir da troca de papéis entre Janot e Raquel Dodge. Com Janot fora de cena, ele acredita que seria mais fácil obter um habeas corpus no STF para deixar a prisão em Curitiba. A decisão da Câmara de impedir que o STF abra processo por corrupção contra Temer como queria Janot teria sido um dos motivos que levaram Cunha a recuar da ideia da delação já.

No início das negociações Cunha teria prometido falar sobre sobre Temer e pelo menos mais 50 deputados, senadores e ministros, entre outros políticos. Procuradores entendiam que, pelos indícios que pesam contra o ex-deputado, Cunha teria munição para triturar a reputação de um expressivo número de políticos, alguns deles do topo da hierarquia. Era isso que justificaria o acordo com o ex-deputado. Até ser preso Cunha era suspeito de liderar uma das maiores bancadas da Câmara. Ele teria mantido o poder mesmo depois de encarcerado.

Investigadores ainda mantém o mesmo ponto de vista sobre o potencial explosivo se, de fato, Cunha decidisse falar tudo o que sabe. Mas, nas últimas semanas, eles passaram a estranhar a estratégia do ex-deputado. Cunha prometia muito e entregava pouco. Para surpresa deles, Cunha estaria deixando importantes fatos de fora da delação. Estaria também apresentando versões completamente inverossímeis e até mesmo contraditória em relação a contundentes provas já recolhidas ao longo das investigações.

— Não sabemos se essa delação vai acontecer - dizia um dos investigadores.

Na sexta-feira, foi batido o martelo. Nos termos apresentados, a Procuradoria-Geral entende que não tem cabimento fazer acordo com Cunha. O ex-deputado está preso em Curitiba desde 20 de outubro do ano passado. Em 31 de março deste ano ele foi condenado a 15 anos e 4 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas em sentença assinada pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.

POR JAILTON DE CARVALHO

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4 Comentários

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Se houvesse uma guerra neste país, estari mais satisfeito.Ora se este bandido com tantas denuncias em suas costas, sendo apoiado por uma quadrilha do crime organizado incluindo o temer que compra seu silêncio e ameaça de morte seus familiares, tanto que á esposa foi vigiada por uma grupo armado.O crime organizado está presente em consonãncia com alguns magistrados incluindo gilmar mendes.Somente pra lembrar, houve uma delação no incinio que foram editadas de propósito pelo Juís Sergio moro e agora esta novela com enredo mexicano.Vergonha de ser brasileiro. continuar lendo

Penso que o problema de Eduardo Cunha é que ele se acha muito inteligente e por isso imagina que pode manipular o Ministério Público como fazia com seus pares na Câmara Federal. Com o MPF, entretanto, “o buraco é mais embaixo”. Se pensa que vai escamotear partes da verdade, provavelmente terá de amargar mais algum tempo na cadeia.

Com relação à futura Procuradora Geral, Raquel Dodge, penso que ela foi colocada numa situação constrangedora pelo presidente. Temer deveria tê-la poupado do polêmico encontro, para que não fosse comparada a seu ex-amigo Joesley Batista, recebido fora da agenda oficial na calada da noite a fim tratar de assuntos nada republicanos. Será que quis dar a impressão de que tem todo mundo na mão, inclusive o Ministério Público Federal?! Michel Temer deveria se lembrar que foi ele (e não Joesley) quem caiu na cilada como patinho. Se conseguir ser absolvido adiante pela Justiça, sua condenação político-moral é inevitável (vide taxa de impopularidade dele nas pesquisas). Os tempos são outros. Esperteza, quando é muita, acaba comendo o dono. continuar lendo

A verdade é que a corrupção entrou na alma dos grandes detentores de poderes. Se enganam quem acha que essa operação vai acabar com essa roubalheira.

"Maldito o homem que confia no outro" continuar lendo

Agora sabemos que, a delação de Cunha apenas não ocorreu por vontade de Moro. continuar lendo